domingo, 22 de maio de 2011

RACEWAY

Produção de peixes cresce e se profissionaliza - 16.05.11 | 04h05
G1-Entre 2007 e 2009, a produção de peixe no Brasil cresceu cerca de 60%
Enquanto é grande a variedade de produtos feitos com carne de boi, frango ou porco nos supermercados, a carne de peixe não tem tanto espaço assim. Isso pode estar mudando, já que o consumo e a produção de pescado no Brasil cresceram inclusive em Mato Grosso, terra dos grãos e do boi.
A carne de peixe é uma das mais consumidas no mundo. No Brasil, onde há grande disponibilidade de água e espécies, perde feio. Os ventos, porém, estão a favor, e o momento é de expansão. O consumo de peixe vem crescendo ano a ano.
Em 2007, um brasileiro comia, em média, pouco mais de sete quilos de peixe por ano. Dois anos depois, passou para nove quilos, e ainda falta para chegar aos 12 quilos por habitante/ano, média recomendada pela FAO, organização das Nações Unidas para agricultura e alimentação.
Entre 2007 e 2009, a produção de peixe no Brasil também cresceu cerca de 60%. Mato Grosso ainda superou essa média nacional de crescimento e aumentou sua produção em 70% no período, muito em razão dos investimentos feitos em Sorriso, no médio norte do estado.

A primeira piscicultura de Sorriso nasceu em um tempo em que ninguém pensava em criar peixe profissionalmente onde os grãos sempre dominaram a atenção do produtor. Foram justamente esses grãos que ajudaram a trazer a atividade para a região.
"Começamos a piscicultura no estado em 1992. Éramos eficientes como produtores, produzíamos bem soja, milho, mas o frete para levar esse produto para o sul do país era muito caro. Fomos buscar, então, formas de converter a proteína vegetal em animal aqui na propriedade e o peixe foi um dos veículos que nós fomos buscar para fazer isso", explica João Pedro da Silva, um dos pioneiros da região na piscicultura.
Hoje, a empresa do João Pedro, a Delicious Fish, também fatura com o bom momento do setor. Nos últimos cinco anos, sua produção anual saltou de 1.000 para 3.000 toneladas de peixe.
No local, eles fazem seus próprios alevinos, vendem parte deles, engordam a outra parte, e ainda processam toda a sua produção e a de 30 parceiros em frigorífico próprio, que fica na capital Cuiabá.
A fazenda trabalha basicamente com três híbridos de espécies amazônicas: o pintado da Amazônia, cruzamento de cachara e jundiá; o tambacu, fruto de mãe tambaqui e de pai pacu; e o tambatinga, mistura de mãe tambaqui com pai pirapitinga, carro-chefe da empresa. "Uns 80% da nossa engorda é tambatinga. A cabeça dele é menor, No frigorífico, o rendimento dele é maior", afirma João Pedro.
Para aumentar ainda mais sua produção e atender um mercado que não para de crescer, João investe em várias frentes. Uma delas é o melhoramento genético das espécies amazônicas. Há dois anos, ele abriu as portas da fazenda e se tornou parceiro do Aquabrasil, um programa coordenado pela Embrapa, que tem como objetivo promover um salto tecnológico na aquicultura brasileira. A empresa de João se tornou sede dos experimentos envolvendo o cachara e o tambaqui. O zootecnista Darci Fornari responde pela pesquisa das duas espécies.
"O grande gargalo hoje para a produção de peixe seria o melhoramento genético, que está relacionado à produtividade, à resistência do animal a sistemas de produção intensivos, e ao aumento na produção em geral", diz Fornari.
Um trabalho sério de melhoramento requer diversidade genética. Quanto mais, melhor. Por isso, outras pisciculturas instaladas na região Amazônica também participam do programa, cedendo suas matrizes e reprodutores.
João Pedro sabe que os resultados disso tudo são de longo prazo, porém muito valiosos. "Eu cheguei ao Mato Grosso há 30 anos, como pioneiro em soja. Na época, nós colhíamos 30 sacas de soja por hectare. Hoje, colhemos 65,70, mais que dobrou. Então, você imagina o lucro das futuras gerações com o melhoramento genético, que não vai ser diferente. Vai ser igual, a sociedade vai ganhar", afirma.
Enquanto os ganhos com o melhoramento genético não chegam, João Pedro busca resultados em curto prazo. Seguindo sugestão de pesquisadores como Darci, também tem apostado suas fichas num sistema de cultivo super adensado que tem um nome em inglês: "raceway".
"O raceway é caracterizado por alta renovação de água, de duas a quatro vezes o volume total por hora, e alta densidade de peixes. Aqui, hoje, nós estamos com quase 100 toneladas por hectare", explica Darci. Nos tanques de "raceway" da fazenda, João Pedro cria pintado da Amazônia. Distribuidores de oxigênio funcionam o tempo todo para manter vivos tantos peixes em espaço tão pequeno.
São muitos os planos de expansão. Nos próximos dois anos, a empresa quer mais que dobrar sua área de cultivo. Quer sair dos atuais 400 hectares de lâmina d'água para 1.000 hectares. Eles também estão de olho em outras espécies com potencial de mercado. O pirarucu, considerado o gigante da Amazônia, é o próximo da lista.
Dos peixes de escama de água doce, o pirarucu é o maior do mundo. Na natureza, pode chegar a três metros de comprimento e cerca de 200 quilos. Sua carne de filé alto é muito valorizada na Amazônia. O problema é que o pirarucu, durante muito tempo, foi super explorado. Para proteger a espécie, a pesca foi proibida. Comer pirarucu hoje só é possível se ele vier de cativeiro ou áreas de manejo, que não são muitas, uma oportunidade de negócio que João Pedro não quer deixar escapar. "O pirarucu tem essa vantagem do grande ganho de peso, e é um peixe que descama igual ao bacalhau. Nós pretendemos vendê-lo como o bacalhau brasileiro", explica.
João Pedro começou a criar pirarucu há dois anos, na fazenda. Hoje, ele mantém duzentos 254 exemplares da espécie, animais que ele comprou de outros criadores habilitados. As matrizes e os reprodutores já estão bem adaptados ao cativeiro, têm bom ganho de peso. O desafio agora é fazer com que eles se reproduzam nos tanques e, em se tratando de pirarucu, a tarefa não é muito fácil. João Pedro criou até um "motel" para ver se consegue capturar os primeiros alevinos ainda este ano. "O pirarucu é um dos poucos animais que o homem não pode pegar um macho e uma fêmea e fazer reproduzir, ele tem que namorar, se afinar, criar o casal espontâneo", diz o produtor.
Mesmo diante de todos esses esforços, João Pedro, acredite, não consegue atender nem a metade da sua procura. "Hoje, nós atendemos 30 a 40% da demanda, que é muito superior à disponibilidade do mercado. Podemos produzir milhares de toneladas que vendemos tudo. A nossa produção é vendida, é consumida em 80% no estado do Mato Grosso, imagine atender o Brasil", afirma.

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